terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

DIÁRIO DE BORDO: UMA SEMANA NORMAL SÓ AUMENTA O CONFLITO E A DISTÂNCIA ENTRE O PAÍS QUE QUER TRABALHAR E GERAR RIQUEZAS COM O PAÍS QUE DESTRÓI VALOR E QUE GASTA MAL O QUE SE ARRECADA

José Roberto Ferro, presidente e fundador do Lean Institute Brasil (Foto: Divulgação)
Verão muito quente e seco. Mês de fevereiro arrastado à espera do carnaval que chega em março. Aí poderíamos começar um ano que talvez nem “comece” de verdade. Logo depois, vai intensificar-se o “oba-oba” da Copa.
A impressão que temos é que está cada vez mais difícil viver no país. Parece que as coisas não andam, que há problemas para todos os lados.
Para esclarecer isso e ter dados concretos, decidi, no início da semana passada, registrar alguns fatos do dia a dia que estivessem mais diretamente ligados a problemas de gestão na esfera pública. Aqui está um resumo.
Segunda-feira, dia 3
Primeiro dia útil do mês. Início das aulas para muitos estudantes. Registram-se diversas escolas públicas sem aula por falta de professores, falta de materiais, merendas etc.
Enormes filas em hospitais e nos centros públicos de saúde para marcar consultas devido a um sistema que aceita marcações apenas no início do mês. Algumas especialidades médicas, em algumas regiões, requerem uma espera de meses para marcar uma consulta ou exame.
Divulga-se que o Governo Federal gastou 20% mais em publicidade em 2013, um total de R$ 232 milhões, o que inclui, aqui, campanhas de utilidade pública, como as de vacinação, mas, também, “programas” do governo sem fins educacionais ou informativos, utilizados apenas para criar uma imagem favorável.
Houve ameaça de assalto ao filho e à neta do governador de São Paulo, frustrada pela equipe de proteção especial que os acompanhava.
Terça-feira, dia 4
Apagão em 13 estados, com mais de 6 milhões de pessoas atingidas. Isso depois de o Governo ter alardeado “risco zero” de apagão.
Em São Paulo, caos no metrô com direito a quebra-quebra, desmaios e tumultos. Problema aparente em uma porta de vagão na Praça da Sé, a maior e mais congestionada estação de São Paulo. Inferno na infernal hora do rush quando milhões de passageiros estão tentando se espremer.
Divulga-se o crescimento da indústria em 2013 de 1,2%. Não se recupera a queda do ano anterior, de 2,5%.
Quarta-feira, dia 5
Policiais e torcedores do Corinthians novamente em conflito dentro de estádio. Ainda repercute a invasão do Centro de Treinamento dessa equipe quando alguns jogadores viraram reféns de torcedores raivosos armados.
Quinta-feira, dia 6
Surgem novos casos de execuções e de humilhações públicas de adolescentes criminosos no Rio de Janeiro realizados por grupos de “justiceiros”.
Ainda na Cidade Maravilhosa, cidade vitrine do “novo Brasil”, que viria com a Copa e as Olimpíadas de 2016, uma manifestação contra o aumento nos preços das passagens do transporte público conclui com as habituais depredações e, dessa vez, com cinegrafista ferido gravemente por um rojão, que faleceu dias depois.
Sexta-feira, dia 7
Mais um operário morto na obra do estádio para a Copa do Mundo em Manaus. O quarto só naquele estádio. Obras em estádios e na construção e melhoria da infraestrutura de mobilidade urbana seguem em ritmo acelerado, com muito mais gente trabalhando do que o necessário.
Pelos atrasos e riscos, o estresse aumenta, ampliando ainda mais a possibilidade de acidentes em todas as obras. Podem vir mais por aí.
Ufa, quanta coisa! Lógico que muita coisa não foi registrada aqui. Mas o que se percebe? Escolas, hospitais, transporte, energia, segurança. Tudo parece estar aos cacos.
O metrô de São Paulo, após o caos de terça-feira, anunciou com ênfase que “os trens estão funcionando normalmente”. Fascinante, não? O que deveria ser “normal” torna-se algo “especial”, digno de ser anunciado. O fato de cada vez mais nos acostumarmos com o “anormal” em nosso dia a dia transforma a normalidade em algo excepcional e, portanto, motivo para júbilo.
Não foi noticiado, mas durante toda a semana, em salas de reuniões e gabinetes, governantes e políticos, apoiados por especialistas em comunicação e marketing, estão seriamente debruçados sobre pesquisas de opinião e elaborando as suas estratégias de campanha para minimizar o impacto negativo da situação atual e contornar a insatisfação com mensagens positivas. Além de discutirem as alianças políticas para definir “quem vai ficar com o quê”, e nunca “como vão ser resolvidos nossos principais problemas”.
Talvez alguns deles, possam, também estar preocupados em resolver os problemas que surgiram durante a semana passada. Mas não parece, pois a maioria deles são problemas recorrentes há anos, sem que muito tenha sido feito para eliminá-los.
Um exame simples dos fatos reforçou a nossa impressão inicial de que as coisas não funcionam mesmo. Problemas sempre existirão. Mas se espera que se resolvam os básicos para que novos surjam e possam, então, serem resolvidos.
Esse ciclo parece não funcionar. Calma que 2014 ainda não começou!! A continuar assim, as coisas só vão piorar, ano após ano.
Porém houve um outro lado durante essa semana. Tive a oportunidade de visitar várias empresas que estavam trabalhando firme para produzir bens e serviços, além de procurar melhorar seus processos produtivos e de gestão.
Uma preparava-se para a inauguração oficial de suas instalações recém-construídas, a ser realizada nessa semana. Outra estava seriamente preocupada em melhorar seus processos administrativos considerando que a sua manufatura estava bastante avançada. E outra estava trabalhando firmemente para melhorar seus processos de desenvolvimento de produtos e de inovação.
Só aumenta o conflito e a distância entre o país que quer trabalhar e gerar riquezas com o país que destrói valor e que gasta mal o que se arrecada sem gerar benefícios adequados. O segundo está ganhando de goleada. Fica com 40% de tudo que se gera de valor e não ajuda a gerar riqueza. Pelo contrário, destrói riquezas como os 20% na agricultura que são perdidos por falta de logística adequada.
Está ganhando por enquanto. Porque, no final, perderemos todos.
(José Roberto Ferro, presidente do Lean Institute Brasil, escreve às segundas-feiras.

fonte: http://epocanegocios.globo.com/Informacao/Visao/noticia/2014/02/diario-de-bordo-uma-semana-normal.html

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